_MEMÓRIAS DE UMA CAIPIRA_

_MEMÓRIAS DE UMA CAIPIRA_

Este espaço virtual, criado em 2008, é fruto de minhas andanças e incursões pelo ofício etnográfico na Ilha de Cananéia, no Vale do Ribeira, Estado de São Paulo, onde pretendo deixar minhas impressões como caminhante, ou tal como diria Helena P. Blavatsky, Lanu.

E no cais se fez história...

E no cais se fez história...
Das memórias imemoráveis dos moradores mais antigos, perpassando por suas bocas seus "causos", saberes e sabores desta ilha, esta caipira mantêm os olhos abertos e a mente relativizadora para fazer-se instrumento de captura dessas histórias de degredados, índias, sereias e sacis que cruzam esta Mata Atlântica e este estuário. Seja bem-vindo a este espaço onde os mitos e lendas que compõem a oralidade caiçara criam e recriam com seus "causos" que se espalharam para além mar. Prepare-se para encontrar tesouros perdidos, passagens secretas, pois a viagem ao imaginário do ilhéu acabou de começar... _Créditos Fotográficos Bianca Lanu_

26 de agosto de 2010

Reiada, Reisado ou Folia dos Santos Reis

Reiada, Reisado ou Folia dos Santos Reis é um folguedo de cunho religioso que se desenvolve entre o Natal e o Dia de Reis (06 de janeiro). A intenção é de reproduzir a viagem dos Reis Magos a Belém, por ocasião do nascimento de Cristo.
Os integrantes executam o canto de maneira compenetrada, erguendo a viola em posição de respeito, quando os versos falam de Cristo. O chefe da Reiada é o "Mestre", que puxa os versos acompanhado da viola, seguido do "Tenor", que acompanha ao cavaquinho e do "Tipe".
Os instrumentos da Reiada são rabeca, triângulo, violas, violões, caixa, ferrinhos e, muitas vezes, cavaquinhos.
O vídeo foi gentilmente cedido pelo filósofo Benedito Machado, que já contribuiu outrora em outros posts por aqui, filmado pelo seu filho Fernando e postado no Youtube por sua esposa Zizi. Mais uma vez obrigada!
Assistam!!!

I Mostra de Arte Contemporânea Caiçara


Músicos e compositores, coreógrafos e dançarinos, artistas plásticos, fotógrafos, escritores, intelectuais e representantes de diversas expressões culturais do litoral paulista se reúnem no final de agosto, em Santos, na I Mostra de Arte Contemporânea Caiçara, que acontece no dia 28, sábado, a partir das 14 horas, na Casa da Frontaria Azulejada, no Centro Histórico.

O objetivo da Mostra é celebrar a arte por meio do encontro entre manifestações tradicionais e obras mais ligadas à vanguarda, bem como fortalecer a produção artística local na busca de expressão universal. A ideia é apresentar ao público em um só local uma série de produções artísticas e reflexões sobre a arte produzida na região e sua relação com a identidade local.

Queremos resgatar nossas tradições e misturá-las ao contemporâneo, estimular a pesquisa e a criação artística, a produção, o intercâmbio e a difusão cultural, conectar a expressão artística regional à global e oferecer ao público uma intervenção entre música, dança, teatro, literatura, circo e artes visuais em evento de improvisação coletiva”, afirma Márcio Barreto, do Percutindo Mundos, grupo de música caiçara contemporânea, e curador da mostra.

A programação começa com uma atividade para crianças e adolescentes, simultaneamente às exposições visuais: “Olhares Marítimos” reúne fotografias de Biga Appes, Adilson Félix, Márcio Barreto e Christina Amorim. Estarão na mostra as esculturas “Aluminarte”, de Anak Albuquerque e Giovane Nazareth, “A Incrível Arte do Equilíbrio”, de Galeno Malfatti, e “Arte DuLixo”, de Tubarão, mais a gravura “Valongo”, de Fabrício Lopez, “Cores”, arte visual de Maurício Adinolfi, “Retratos” da artista gráfica Nice Lopes, os cartazes do Coletivo Action, com a série “Supremacia Caiçara” e o grafite de Valério da Luz.

Das artes cênicas e circenses, o evento apresentará “Ciranda Caiçara”, projeto que une arte e meio ambiente, “Pagu Mulher” com o grupo Gaia´thos e Escola Livre de Circo da Oficina Regional Cultural Pagu, a atriz Christy-Ane Amici (“Atro Coração”) e a Trupe Olho da Rua. Depois se apresentam o Projeto Guri, da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, e o Centro Educacional e Recreativo (CER) da Secretaria de Cultura de São Vicente.

Para refletir sobre a identidade da região, o jornalista Alessandro Atanes, mestre em História Social, faz a miniconferência “Caiçara, Portuário, Oceânico”, com inserção de canções do projeto “Rota Literária”, sobre como a arte e a literatura mostram a região.

Às 18 horas, começa uma nova série de apresentações: Meire Berti e o Coral Fosfértil Baixada Santista apresentam “Indianismos”, a dançarina e coreógrafa Célia Faustino mostra a coreografia “Repetição e/ou Transformação”; outras coreografias são de Rita Nascimento, “Faz de Conta que Ela Não Estava Chorando por Dentro”, e de Kiusam de Oliveira, “Afrodescendência”.

Entre os escritores, Flávio Viegas Amoreira apresenta trechos de “Escorbuto” e José Geraldo Neres lê “Outros Silêncios”, além de Ademir Demarchi, editor da revista Babel, Jap Krichinak do Museu de Arte Popular de Diadema e Marcelo Ariel, que acaba de lançar o livro de poesia “Conversas com Emily Dickinson”.

Com participação do compositor Gilberto Mendes, as atrações musicais reúnem Zéllus Machado e Trio Kaanoa (música caiçara), o pianista Tarso Ramos, Percutindo Mundos - O Universo em Movimento, com sua Música Caiçara Contemporânea e o grupo Sidarta.

Às 21h30, para encerrar a Mostra, artistas e público interagem em uma intervenção multimídia, reunindo música, teatro, dança, literatura e artes visuais criando uma obra coletiva.

O curador Márcio Barreto explica a iniciativa de reunir vários artistas em um só evento: “A I Mostra de Arte Contemporânea Caiçara justifica-se pela necessidade de promover reflexões e debates sobre identidades culturais e sua importância para o cenário mundial, assim como assegurar e difundir o rico patrimônio artístico caiçara e sua relação com o global”.


Realização: Márcio Barreto (Instituto Ocanoa – São Vicente)

Apoio:
Marta Molina (Artefacto Cultural – Barcelona/Espanha)
Natalia Freire (Instituto CAE – Santos)
João (Instituto Camará Ponto de Cultura – São Vicente)

Divulgação:
Alessandro Atanes e Márcia Costa (Revista Pausa e Instituto Artefato Cultural)

13 de agosto de 2010

Blog Limite da Terra Paraná


Conheçam o blog Limite da Terra Paraná! Mais um colaborador em defesa da reforma agrária e da soberania territorial e alimentar!
Acesse aqui!

5 de agosto de 2010

Campanha Nacional pelo Limite da Propriedade da Terra


Em defesa da reforma agrária e da soberania territorial e alimentar!

Você concorda que as grandes propriedades de terra no Brasil devem ter um limite máximo de tamanho?

Participe do Plebiscito Popular entre os dias e 7 de setembro de 2010!

Para mais informações acesse aqui.

4 de agosto de 2010

Ingoma, o Menino e o Tambor - a tradição do Batuque de Umbigada


Autor: Lucas Puntel Carrasco

Gênero e público-alvo: Ficção infantojuvenil

Assunto: Cultura caipira e afrobrasileira, modos de vida, cotidiano de menino do interior

Temas transversais: Diversidade cultural, ética e cidadania

Relevância: Lei federal n° 10.639, sobre ensino de história e cultura afrobrasileira e africana


Indicação de leitura do parceiro Lucas que já escreveu a pedido o Soneto Caniné, publicado no livro Histórias e Lendas Caiçaras de Cananéia, organizado por mim com apoio do Programa de Ação Cultural (ProAC), da Secretaria de Estado da Cultura, de São Paulo e postado aqui no Blog Memórias de uma Caipira, e que também já contribuiu conosco cedendo o Soneto Azul-Marinho e o Soneto do Divino, originais de Pindá, a menina do mar e publicados posteriormente na etnografia Reza a Lenda: a cultura caiçara de Cananéia vivenciada no bairro rural de Santa Maria, escrita por mim também com apoio do ProAC, em 2008.


Confira a sinopse de

Ingoma, o Menino e o Tambor - a tradição do Batuque de Umbigada


Olhar para trás com orgulho e respeito. É esta a mensagem que crianças e jovens pelo interior de São Paulo são estimuladas a ler nas páginas de Ingoma, o Menino e o Tambor. A obra foi inspirada na convivência com o mestre de Batuque Vanderlei Bastos, de Piracicaba/SP, como também na vivência do autor, Lucas Puntel Carrasco, que caipira de Rio Claro/SP e afrodescendente cresceu vaquejando em sua infância naquele município.

De um jeito simples, Ingoma apresenta o menino Dito, que vive em uma comunidade negra na periferia de Piracicaba. Ele descobre a tradição do Batuque de Umbigada, ou Tambu, sempre cultivado no quintal por sua avó e por velhos mestres dos sítios da vizinhança e cidades como Tietê e Capivari – cuja comunidade quilombola, certificada pela Fundação Palmares em março de 2007, traz consigo um legado de resistência, organização e, sobretudo, conquista ao direito da terra.

Com prefácio de Zé Hamilton Ribeiro, editor-chefe do Globo Rural, e contra-capa assinada pelo sambista Nei Lopes, agraciado com a Ordem do Mérito Cultural e autor do Dicionário Banto do Brasil e Enciclopédia da Diáspora Africana, o romance prioriza culturas em vias de extinção – caipira e quilombola – além de ser conduzido por proponente de relevância na área (escritor afrodescendente de origem caipira premiado no PAC 2006, da Secretaria de Estado da Cultura, de São Paulo pelo livro infantojuvenil Pindá, a menina do mar: sonetos para uma infância caiçara.

Considerando que a lei federal nº 10.639, de janeiro de 2003, torna obrigatório o ensino de história e cultura afrobrasileira; que, em seu esteio, inúmeros cursos vêm sendo oferecidos para formar educadores capacitados no assunto; que, a exemplo do município mineiro Carmo do Rio Claro, o projeto “Vida Rural” oficializou na grade curricular o caipirês, matéria sobre linguagem, crendices, música e medicina popular caipira; nesse sentido o livro Ingoma, tanto no conteúdo do miolo como em seu suplemento pedagógico, resgata e valoriza os costumes e as tradições caipira e afrobrasileira; ou melhor, “afrocaipira”. Com isso, transmite esse fundamento para crianças e jovens dos ensinos fundamental e médio, promovendo, assim, sua continuidade.


Sobre o autor

Lucas Puntel Carrasco nasceu no Natal de 1979 em Rio Claro/SP. Trabalha em São Paulo com revisão de texto e assessoria editorial. Publicou Pindá, a menina do mar – sonetos para uma infância caiçara, que em 2007 lhe rendeu o prêmio PAC.

Editor e pesquisador do songbook PretoBrás, o livro de canções e histórias de Itamar Assumpção, o autor também publicou na revista Cronopinhos o conto ecológico Dulenega – um gosto de fábulas no mar de gatos, sobre lendas dos índios caribenhos kuna-yala.

Contato: lucaspuntelcarrasco@gmail.com

Comentários sobre a obra



“Ingoma, o menino e o tambor é um documento da dignidade e do respeito que existe na umbigada. Este livro é uma referência cultural e um momento de prazer para todos nós.”

José Hamilton Ribeiro (Editor do Globo Rural, prêmio Brasileiro Imortal e autor de Música caipira: as 270 maiores modas de todos os tempos)


“Ingoma, o menino e o tambor é excelente fonte de informações sobre o universo que focaliza. Por sua linguagem e abordagem, é obra de valor literário indiscutível. E por seu conteúdo tem função social relevante, de valorização da cultura afrobrasileira, na importância educacional e motivação de uma positiva autoestima nos leitores afrodescendentes.”

Nei Lopes (Ordem do Mérito Cultural e autor da Enciclopédia brasileira da diáspora africana)


Ficha técnica

Título: Ingoma, o menino e o tambor – a tradição do batuque de umbigada

Autor: Lucas Puntel Carrasco

Ilustrações: Daniel Ribeiro e José Agustin Carrasco Mandeville

20 páginas

Formato: 16 x 23 cm

Editora: Puntel Editorial

Ano de publicação: 2010

1 de agosto de 2010

O dianho é tentador


Por Benedito Machado, filósofo e escritor

Nhô Florêncio se aproximou e me cumprimentou, com um toque da mão no chapéu de palha:

- Professô, quiria uma ajudazinha!

- Fala, Florêncio. Mas que diabo de porrete é esse?

- Jacatirão. Tive uma ajuda milagrosa do Bom Jisus e vou levá este pau pra deixá na Sala dos Milagres. Mas tem também a história, que vai junto, intão priciso de sua ajuda, porque não tenho iscrita prá isso.

- Não fale bobagem, Florêncio, o Santo não exige gramática, mas sinceridade. Deixa ver.

Ele me estendeu uma folha de caderno escolar, meio amassada, onde estava seu relato, numa caligrafia sofrida, que denunciava esforço e capricho. O relato (transcrito abaixo) agora faz parte dos ex-votos, depositados na Sala de Milagres da Basílica:

“Acriditem no que digo: não sêsse o Bom Jisus este mundão tava perdido. Porque o dianho anda solerte, cavando um jeito de destemperá nossa vida. Maginem que eu tinha me acoitado debaxo dum pé de jacatirão, por conta da guascada de chuva que me pegô de supetão, no meio do mato, quando vi um remoinho se achegando, de com força, arripiando as pranta, desvirando os graveto e dando um contorno adonde eu tava, pra decerto me acertá pelos fundo. Nessa artura, sabendo das artimanha do demo, que eu não sô apocado da cabeça, sartei de donde tava, gritando pelo Bom Jisus, que sempre foi meu protetô. No que eu sartei e gritei, um fuzir iluminô tudo, por chamado do malino, e se pregô em riba da arve, bem no lugá que eu tava, rebentando um gaio, que ia direto no meu cangote, se eu não me ispertasse e não chamasse o Sarvadô. Corri dali, que não se espera nada de certo do coisa ruim, mas memo com o sunsurro da chuva deu pra uvi o rincho daquela risada desmesurada, que o fite dá pra assustá a gente. Cheguei no rancho e pidi pra todo mundo garrá a rezá reza pesada, pra afastá de nóis o molesto do coisa ruim. Assim me sarvei e por isso truxe um pedaço do jacatirão, prá dexá na Sala de Milagre do Santo, junto com a minha história, em honra e pagamento da graça arricibida”.



Imagem extraída de:


http://blog.cancaonova.com/tvsp/2009/08/05/festa-de-bom-jesus-de-iguape/