Por Rodolfo Vidal
Peço a benção e a permissão dos meus mestres fandangueiros e ancestrais para contar minha história e relação com o Fandango Caiçara da região de Cananéia.
Comecei a me interessar em querer aprender a tocar rabeca para me divertir com meus amigos em alguns forrós, logo fiquei sabendo que na Associação Rede Cananéia já havia oficinas de rabeca, foi então que tomei coragem e fui a uma delas.
Quando cheguei fiquei impressionado com que vi, era um maravilhoso e desconhecido universo do qual eu nunca tinha passado e nunca vou me esquecer.
Estavam lá nesse dia “Seu” João Firmino, que considero meu mestre rabequeiro, “Seu” Ambrósio Camargo, que contava várias histórias de fandango, “Seu” Agostinho Gomes, que é um grande construtor de rabeca capaz de dar um nó com a caxeta que ele cozinhava para fazer o aro, Amir Oliveira, Celsinho, Beto Pereira e suas infinitas modas, Hugo Emiliano e seu “finado” Davino de Aguiar, rabequeiro e construtor de rabeca.
Cheguei um pouco sem jeito e todos já estavam afinando seus instrumentos, quando “Seu” João falou: - Não quer pegar uma rabeca? Pega lá que eu afino pra você!
Depois desse dia não fui o mesmo!
Passei a ir toda semana para as oficinas na Rede, era um mundo do Fandango Caiçara que eu não conhecia, da afinação dos instrumentos as mais curiosas histórias e “causos” vivenciados, ou não, por esses jovens senhores mestres dos saberes tradicional.
A cada semana que passava ficava ainda mais fascinado em poder compartilhar alguns momentos que ia desde guardar os instrumentos, quando ameaçava cair uma trovoada (isso porque, para eles, as cordas dos instrumentos chamam os relâmpagos), até as mais lindas toadas entre Dandão e Chamarritas.
Nessa época Amir me convidou para ser parceiro no Projeto Resgatando o Fandango Caiçara, da qual organizávamos as Domingueiras de Fandango onde os grupos de fandango de Cananéia e região se reuniam para tocar e dançar durante as eternas tardes de domingo que adentravam a noite sem fim.
No inverno de 2006 tive a oportunidade de participar do I Encontro de Fandango e Cultura Caiçara, na cidade de Guaraqueçaba, PR, onde encontrei diversos tocadores, dançarinos, contadores de “causos” e, pela primeira vez, pude presenciar a dança do batido caiçara. Foi emocionante quando os mestres começaram a marcar o batido, tinha a sensação que estavam batendo dentro do meu peito.
Veio Canela, o nome em que batizei minha rabeca de cocho de 3 cordas feita de caxeta e canela preta confeccionada por “Seu” João. Era sua quinta rabeca
Já na primavera de 2006 participei do processo de fundação da Associação dos Fandangueiros de Cananéia (AFACAN), onde até a presente data me encontro como secretário e atuando como intermediador dos objetivos comuns dos fandangueiros para o benefício coletivo.
No outono de 2007 fui convidado para participar do Projeto Ação Griô Nacional, pelo Ponto de Cultura Caiçaras, como Griô Aprendiz e tendo como “Mestre do Saber” “Seu” João Firmino e “Seu” Hugo Emiliano, com o objetivo de levar a tradição oral aprendida com os mestres fandangueiros para dentro da escola ou fora dela.
Também tive a oportunidade de conhecer diversos lugares e pessoas nessa minha caminhada. No verão desse ano assumi as oficinas de rabeca na Rede Cananéia com a clareza de reinventar o aprendizado do instrumento mesclando minhas vivências de aprendiz de rabequeiro com noções básicas de Teoria Musical. Uma pequena semente que está sendo regada todos os dias.
Veio Lindinha, nome que batizei minha rabeca de aro de 4 cordas, também feita de caxeta e canela, confeccionada por Dito Roberto.
É sempre um grande prazer encontrar mestres e amigos fandangueiros para um toque de viola, como nós chamamos aqui, ou até mesmo uma contação de história, assim vivo aprendendo, escutando, sentido, ouvindo, ensinando, dançando, afinando, tocando... Viva a Cultura Caiçara!
Foto de:
http://www.overmundo.com.br/agenda/degustacao-mundareu-oficinas-de-arte-e-cultura-popular
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