_MEMÓRIAS DE UMA CAIPIRA_

_MEMÓRIAS DE UMA CAIPIRA_

Este espaço virtual, criado em 2008, é fruto de minhas andanças e incursões pelo ofício etnográfico na Ilha de Cananéia, no Vale do Ribeira, Estado de São Paulo, onde pretendo deixar minhas impressões como caminhante, ou tal como diria Helena P. Blavatsky, Lanu.

E no cais se fez história...

E no cais se fez história...
Das memórias imemoráveis dos moradores mais antigos, perpassando por suas bocas seus "causos", saberes e sabores desta ilha, esta caipira mantêm os olhos abertos e a mente relativizadora para fazer-se instrumento de captura dessas histórias de degredados, índias, sereias e sacis que cruzam esta Mata Atlântica e este estuário. Seja bem-vindo a este espaço onde os mitos e lendas que compõem a oralidade caiçara criam e recriam com seus "causos" que se espalharam para além mar. Prepare-se para encontrar tesouros perdidos, passagens secretas, pois a viagem ao imaginário do ilhéu acabou de começar... _Créditos Fotográficos Bianca Lanu_

19 de fevereiro de 2010

"Cada toada representa uma saudade"


Por Lucas Puntel Carrasco, extraído de Almanaque Brasil, com ilustrações de Laura Andreato


Caipira gosta é de pegar o caminho da roça, picar a mula e queimar o chão depois da faina, ao fim do dia. Chega no rancho, janta sua farinha com feijão e arroz, que vai bem com qualquer mistura, emborca pinga no caneco e agarra desfiar as mágoas no dorso do pinho. Não é à toa que seja costume chamar de cebolão uma das afinações do instrumento de 10 cordas: de tão bonito, o cebolão arranca o choro de quem ouve a sua toada.

Violeiro bão pra diacho, Ivan Vilela diz que o sujeito passa metade da vida tentando afinar a viola, e a outra metade tocando desafinado. É causo que na certa lhe contou um caipira de velho corte, daquele que Benze os muriquinhos com galhinho de arruda e acredita em assombração da mata. Pois foi numa dessas prosas de luar alto que se campeou rio abaixo uma moda sobre o baruião que a passarada rebenta cantar de madrugada.

O motivo dessa cantoria toda é simples que nem picar fumo em palha de milho. Quando a moda versa sobre passarinho assobiando no galho, o sujeito quer mesmo é se gabar de sua liberdade cabocla. Agora, se na primeira voz o mote tem boiada deitando pasto, capricha uma terça acima, porque é o vaivém do caipira sertão adentro o assunto dessa pauta. Ô se é!


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