Bianca Lanu
O olhar, o ouvir e o escrever durante o processo empírico configuram-se em questões epistemológicas que condicionam a investigação antropológica, assim esses atos cognitivos de natureza epistêmica logram o saber dessa disciplina da área das Ciências Sociais e Humanas.
Ao passo que o olhar e o ouvir partem da percepção, o escrever está associado ao pensamento, cujo discurso criativo delineia a produção em Antropologia.
O sentido e a significação dos dados colhidos no trabalho-de-campo (fieldwork) são obtidos pelas explicações fornecidas pelos próprios membros da comunidade pesquisada, através da vivência entre eles e de entrevistas realizadas onde o ouvir tem um lado todo especial, desta forma, saber ouvir através de uma conduta relativizadora é de suma importância.
A observação participante, nesta medida, aprofunda as análises etnográficas onde o informante deve ser o interlocutor, bem distinto daqueles descritos por Bronislaw Malinowski, cuja relação não-dialógica permeava tais pesquisas de uma Antropologia iniciante.
Compreender o Outro através de sua ótica, não por nosso olhar com suas formas pré-estabelecidas eis a relativização antropológica.
O trabalho-de-campo, a partir destas considerações, é a experiência subjetiva de cada pesquisador, sendo que a necessidade de pensar na relação entre antropólogo e grupo pesquisado tem sido uma preocupação recente na Antropologia e questionar essa relação é o ponto chave para a construção de etnografias, conceitos e teorias antropológicas.
Nesta medida, a história individual do pesquisador versus o olhar sob o objeto estudado é à base dessa disciplina onde o “Como conhecer?” e “Para que conhecer?” se estruturam em um espaço para discussão constituinte do próprio campo da Antropologia, onde os diários de campo relatam as ambigüidades, angústias e sofrimentos do antropólogo frente ao Outro.
Mergulhar na subjetividade diante do Outro lhe remete ao pressuposto filosófico do “Quem sou eu mesmo?”, “O que significa minha própria cultura?”, “Quem é o selvagem e o civilizado?”, havendo um deslocamento permanente entre a própria identidade, o Eu, e os Outros, redefinindo a própria identidade de mulher, pesquisadora, e não apenas de “cientista neutro e assexuado”, imaginário social existente a respeito da antropóloga viajando sozinha, longe de seus pares e de seu cotidiano.
Nesta perspectiva, cada caminho reflete a forma individual e subjetiva do encontro de si mesmo a partir do encontro com o outro!
O estudo meticuloso dos povos e suas peculiaridades representam uma imensa contribuição ao conhecimento da diversidade sócio-cultural humana, sendo somente após a Segunda Guerra Mundial que se tornaram comuns estudos antropológicos de sociedades modernas.
Portanto, o ofício do antropólogo ou “como ter Anthropological Blues”, parafraseando Roberto DaMatta, requer uma Ciência que passa não só pelos sentidos, mas por um devir constante onde a escolha do informante requer alguém competente em descrever verbalmente seus arredores, sua cultura e a si mesmo, estabelecendo uma simpatia mútua entre etnógrafo e nativo, que são apreendidas e reveladas através da experiência de dar voz àquele que representa seu tempo, seu lugar e seu povo.
_Foto do Coletivo Jovem Caiçara tirada no bairro rural de Santa Maria, em Cananéia/SP, durante a execução do Projeto "Saberes Caiçaras," em 2007, apoiado pelo Programa de Ação Cultural (PAC) da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo.
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